Suspeito de desviar um arsenal de munições, que foi apreendido
pela Polícia Militar em uma casa no JK, zona norte da cidade, na última
terça-feira (31), o policial civil Paulo Sérgio da Silva, mais conhecido
como “Paulinho”, pediu licença prêmio de 30 dias ontem pela manhã ao
delegado seccional de Marília, Luiz Fernando Quintero de Souza. A
solicitação foi aceita.
A informação foi confirmada pelo delegado-corregedor Fábio Pinha
Alonso, que preferiu não entrar no mérito do afastamento. “A licença
prêmio é um direito do servidor que trabalha por cinco anos e não comete
nenhuma falta ou recebe algum tipo de punição”, disse, durante coletiva
de imprensa realizada à tarde na sede da Polícia Civil.
Alonso também contou que, caso Paulinho não tivesse entrado com
pedido de licença, ele continuaria exercendo as suas atividades
normalmente. “Só podemos afastar um oficial quando existe a comprovação
da má conduta, o que não é o caso”.
No encontro, ele também afirmou que a Corregedoria tomou às rédeas do
inquérito, que antes corria pelo 1º DP, e que já tomou o depoimento de
uma pessoa. “Porém, nada do que foi dito acrescentou novas informações
ao caso”, disse Alonso, que não revelou a identidade do depoente.
“Ainda é cedo para concluir se houve desvio ou não. Algumas das
munições apreendidas são de calibres usados pela polícia, outras não. As
algemas não são as funcionais (usadas pela Polícia Civil), mas os
sprays de pimenta sim. Por isso, já solicitamos o rastreamento de tudo o
que foi apreendido e desta forma tentar identificar a origem desses
produtos”, completou. Ele ainda afirmou que não houve registros recentes
de furtos de munições na cidade.
Sobre as camisetas exclusivas da Polícia Civil que também estavam com
André, ele afirmou que existe uma recomendação para que os oficiais
sequer as doem e que o encontro delas com um civil também será
investigado.
Alonso também aproveitou a coletiva para esclarecer que Paulinho é
agente de telecomunicações e não investigador. Além disso, também
explicou o grau de parentesco de Paulinho com o eletricista André Luiz
Paulino de Lira, 22, que acabou preso na ação. “A esposa do suspeito é
prima do policial”.
O corregedor preferiu não falar em prazos para a conclusão do
inquérito. “São vários laudos, por isso é difícil estipular uma data,
mas posso afirmar que a licença solicitada pelo policial não irá
atrapalhar a apuração do caso”, finalizou.
Caso seja comprovado o desvio de munição, Paulinho poderá ser
indiciado por peculato e até ser expulso da Polícia Civil. Por outro
lado, se ele tiver solicitado a guarda das munições, poderá responder
por coautoria de posse de arma e munições.
Já André foi indiciado pelo crime de posse ilegal de arma de fogo e
munição de uso restrito e está encarcerado na cadeia de Garça. Se
condenado, ele pode pegar até seis anos de prisão em regime fechado,
além de pagamento de multa.
Em carta enviada à imprensa, Paulinho negou veementemente os fatos.
“Nunca desviei qualquer arma ou munição da DIG. O coloco há disposição o
meu imposto de renda de qualquer ano, igualmente meu sigilo telefônico,
fiscal, pois, todas as autoridades saberão que sou honesto, e nada devo
ou fiz de errado”, diz no documento.
ENTENDA
Uma denúncia anônima informou a existência dos armamentos em imóvel
localizado na rua Lucílio Coelho de Oliveira. Durante as buscas, foram
encontrados sob a laje da residência dois revólveres, um calibre 22 e
outro calibre 38. Ambos estavam em uma caixa preta.
Em uma sacola próxima havia um soco inglês, algemas, coldres, arma de
choque, gás de pimenta e seis camisetas confeccionadas exclusivamente
para policiais civis de Marília, entre elas da Garra (Grupo Armado de
Repressão a Roubos e Assaltos).
Também havia dezenas de munições, entre elas uma de fuzil 762. Também
havia de calibre 757, 380, 45, 40, 38 e 22. Foi apreendida também uma
luneta que poderia ser acoplada como mira em revólveres.
A desconfiança do envol-vimento de um policial civil foi evidenciada
com o depoimento da mãe de André. Ainda no imóvel, a mulher - a
identidade foi preservada - disse aos policiais militares que “sabia que
a amizade com o policial civil iria acabar dando rolo”.