sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Toque de recolher na zona sul reforça prisão de quadrilha do tráfico

Argumento foi usado para manter “Rico” e mais dez réus na cadeia; Corregedoria da Polícia Civil foi autorizada a utilizar documentos sigilosos contra investigador suspeito


DESERTO - Às 19h30 do dia 5 de agosto de 2010, ruas já estavam vazias próximo ao CDHU da zona sul - Foto: Arquivo
Uma reportagem especial e exclusiva divulgada pelo Jornal Diário na edição de 6 de agosto de 2010 denunciou que os então recém-iniciados confrontos da 1ª fase da “Guerra do Tráfico” da zona sul haviam mudado a rotina de moradores da região, que inclusive recebiam “orientações” de não saírem às ruas no período noturno, em um claro “toque de recolher” imposto pelas gangues.
O temor era tanto que comerciantes baixavam as portas mais cedo, estudantes faltavam às aulas e até mesmo quatro pequenas cirurgias que seriam realizadas em crianças por alunos de medicina da Famema (Faculdade de Medicina de Marília) na UBS do Nova Marília foram canceladas. Na época, Polícia Civil e Militar desmentiram a reportagem, afirmando que o toque de recolher não se passava de boato.
Mas, passados mais de dois anos, através de um despacho proferido ontem (13) e assinado pelo juiz José Roberto Nogueira Nascimento, a ordem para que os moradores permanecessem em suas casas ao anoitecer de fato existiu.
“Durante o período de maior confronto entre os envolvidos na Guerra do Tráfico, toda a população da zona sul de Marília, uma das mais populosas, se viu obrigada a atender ‘toque de recolher’, circunstância esta que não se mostra plausível no Estado de Direito”, diz o magistrado ao argumentar pela manutenção da prisão de onze réus do processo, entre eles Alex Amarildo de Oliveira, 27, o “Rico”.
Na decisão, Nascimento cita que “como decidido reiteradas vezes neste processo, a peculiaridade (guerra entre quadrilhas) justifica a permanência dos réus no cárcere para preservação da ordem pública”.
No mesmo despacho, o magistrado determina que um defensor público assuma a defesa de Rico, até então sem advogado constituído, e argumenta que a demora para o encerramento da fase procedimental aconteceu pelo elevado número de réus (24). Além disso, determina a suspensão do processo contra Adriano Simões Dias, que foi “citado por edital, não compareceu em juízo e não constitui advogado”.
Outra medida tomada pelo juiz da 1ª Vara Criminal autoriza a 4ª Corregedoria Auxiliar - Bauru a utilizar a documentação sigilosa que consta no processo no procedimento administrativo contra o investigador Aurísio Vieira de Melo Júnior, que é investigado, ao lado do cabo da Polícia Militar, Rubens Rogério de Oliveira, por dar suporte logístico à quadrilha de Rico.
INÍCIO, MEIO E FIM
A “Guerra do Tráfico”, travada entre as quadrilhas de Rico e de Edson dos Santos Silva, 26, o “Dinho”, foi iniciada em meados de 2010. Ainda que o início da disputa permaneça obscuro - é citado desde a tomada de bocas de fumo até um simples acidente de trânsito -, a primeira morte não demorou a acontecer, quando o vendedor Ricardo Afonso de Souza, 31, o “Ricardão”, foi assassinado com um tiro à queima-roupa no pescoço quando aguardava a esposa deixar a empresa onde trabalhava.
O crime foi revidado com ataques à bala, um deles na esquina de uma creche no Parque das Azaleias. Por sorte, o período era de férias escolares e o local estava vazio. Dias depois, uma “reunião” teria selado o fim da primeira fase dos confrontos.
No final do ano passado, no entanto, e já com Dinho atrás das grades, as gangues voltaram a duelar. Mais de dez boletins de ocorrência foram registrados relatos que imóveis e pessoas haviam sido alvejadas durante a madrugada em vários pontos da cidade. Em um destes ataques, que teria sido comandado por Rico, o jovem Leandro Romanelli Moreira, 19, foi morto.
Já procurado pela morte de Ricardão - sua amásia, Ingrid Daiane de Souza Carvalho acabou presa como coautora do crime -, o megacriminoso continuava driblando a polícia. Na manhã de 7 de dezembro, porém, a caçada terminou quando ele e o irmão, Daniel Augusto de Oliveira, o “Dani”, atolaram em um lamaçal quando tentavam fugir de um cerco montado pela Polícia Civil e Militar em uma propriedade rural de Oscar Bressane (45 km de Marília).




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