Dom Odilo Scherer pode ser a surpresa, diz especialista
Eleição para o novo Papa está pautada entre divisões de conceitos de cardeais
O cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, pode ser a
surpresa do conclave que, nos próximos dias, começa a escolher no
Vaticano o futuro papa. Essa é a opinião do especialista em religião
Daniel Alvarez, da Universidade Internacional da Flórida. Segundo
Alvarez, a ascendência alemã de Scherer “o conecta à Europa”, o que
fortaleceria sua posição para ser escolhido para assumir o pontificado.
O especialista acredita que um embate entre os que querem reformar a
administração da Igreja Católica e os que querem manter o status quo
estaria pautando a eleição.
Um exemplo do embate identificado pelo analista se deu na
quinta-feira, quando o jornal italiano “La Repubblica” publicou uma
entrevista com um dos “corvos”, uma gíria para delator em italiano e uma
alcunha para os que participavam do grupo que vazou informações do
Vaticano, no caso conhecido como Vatileaks.
Um relatório da situação, que mostraria escândalos financeiros e
sexuais, teria motivado a renúncia de Bento 16 e estaria pautando as
discussões sobre o novo papa.
Outro suposto exemplo da tensão na Igreja foi percebido um dia antes,
quando jornalistas aguardavam ansiosos declarações dos cardeais
americanos, que vinham concedendo uma série de entrevistas coletivas
diárias sobre o processo de escolha do próximo papa, mas a coletiva
acabou sendo cancelada de última hora.
O Vaticano vetou as entrevistas dos cardeais. Pouco depois, os
religiosos americanos emitiram uma nota de duas frases que se limitava a
dizer que tinham um “compromisso com a transparência”.
BBC Brasil - Os cardeais vão unidos para a Capela Sistina ou há divisões internas?
Daniel Alvarez - Creio que há conflitos internos. Há um grupo que
quer a suspensão de altos funcionários e até de cardeais que por décadas
operaram sob uma cultura de corrupção, cumplicidade de silêncio e
encobertamento de sacerdotes pedófilos. Cito por exemplo Rioger Mahoney,
Bernard Law (ambos dos Estados Unidos), Sean O’Brady (Escócia),
Castrillón Hoyos (Colômbia), Angelo Sodano e até Tarcisio Bertone (ambos
italianos). Também querem que o relatório submetido a Bento 16 se torne
público. Destaca-se o cardeal Cristoph Schönborn, de Viena, que em 1998
bateu de frente com Angelo Sodano, por este não querer investigar o
cardeal emérito de Viena, Hans Hermann Groër, por abuso de menores. Ele
defende abertamente o fim da cultura do acobertamento.
+ informações
.
Qual é o outro grupo?
O outro grupo é formado por quem quer manter o status quo, quem quer
imunidade a críticas e represálias aos mais altos funcionários da
igreja. O candidato que eles menos querem como papa é Schönborn.
Qual é o papel do Vatileaks na eleição do novo papa? Isso preocupa os cardeais?
Claro que sim. Eles temem que as revelações (contidas no relatório)
os incluam e tudo indica que o vazamento de informações vai continuar.
As revelações expuseram a crise no Vaticano e esta crise não é uma
invenção da imprensa liberal ou italiana.
Além do conteúdo bombástico do relatório, o que mais divide os cardeais?
Primeiro a falta de transparência nos assuntos do Vaticano e na
conduta da Cúria, incluindo as finanças e a gestão do Banco Vaticano.
Segundo, a disposição de alguns de remover dos cargos padres pedófilos e
até cardeais que os protegeram (os padres). Terceiro, a eleição de um
papa africano ou da América Latina. O último continente tem 40% dos
católicos e é pouco representado no colégio cardinalício. A maioria dos
cardeais, 62, são europeus. Por fim, o tema do celibato, o papel da
mulher na igreja e o uso de anticoncepcionais também são temas de
divisão.
Alguma aposta sobre quem será o novo papa?
Angelo Scola, de Milão, seria o favorito de Bento 16 e de muitos.
Schönborn parece ser o papa de que a igreja precisa urgentemente. Mas
Odilo Scherer, de São Paulo, pode ser a surpresa do conclave. Sua
ascendência alemã o conecta à Europa. Marc Oullet, do Canadá, também não
pode ser ignorado. Ele fala espanhol, viveu muitos anos na Colômbia e
isso o ajudaria. Tem laços europeus, latino-americanos e
norte-americanos.
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Dom Odilo Scherer pode ser a surpresa, diz especialista
Eleição para o novo Papa está pautada entre divisões de conceitos de cardeais
O cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, pode ser a surpresa do conclave que, nos próximos dias, começa a escolher no Vaticano o futuro papa. Essa é a opinião do especialista em religião Daniel Alvarez, da Universidade Internacional da Flórida. Segundo Alvarez, a ascendência alemã de Scherer “o conecta à Europa”, o que fortaleceria sua posição para ser escolhido para assumir o pontificado.
O especialista acredita que um embate entre os que querem reformar a administração da Igreja Católica e os que querem manter o status quo estaria pautando a eleição.
Um exemplo do embate identificado pelo analista se deu na quinta-feira, quando o jornal italiano “La Repubblica” publicou uma entrevista com um dos “corvos”, uma gíria para delator em italiano e uma alcunha para os que participavam do grupo que vazou informações do Vaticano, no caso conhecido como Vatileaks.
Um relatório da situação, que mostraria escândalos financeiros e sexuais, teria motivado a renúncia de Bento 16 e estaria pautando as discussões sobre o novo papa.
Outro suposto exemplo da tensão na Igreja foi percebido um dia antes, quando jornalistas aguardavam ansiosos declarações dos cardeais americanos, que vinham concedendo uma série de entrevistas coletivas diárias sobre o processo de escolha do próximo papa, mas a coletiva acabou sendo cancelada de última hora.
O Vaticano vetou as entrevistas dos cardeais. Pouco depois, os religiosos americanos emitiram uma nota de duas frases que se limitava a dizer que tinham um “compromisso com a transparência”.
BBC Brasil - Os cardeais vão unidos para a Capela Sistina ou há divisões internas?
Daniel Alvarez - Creio que há conflitos internos. Há um grupo que quer a suspensão de altos funcionários e até de cardeais que por décadas operaram sob uma cultura de corrupção, cumplicidade de silêncio e encobertamento de sacerdotes pedófilos. Cito por exemplo Rioger Mahoney, Bernard Law (ambos dos Estados Unidos), Sean O’Brady (Escócia), Castrillón Hoyos (Colômbia), Angelo Sodano e até Tarcisio Bertone (ambos italianos). Também querem que o relatório submetido a Bento 16 se torne público. Destaca-se o cardeal Cristoph Schönborn, de Viena, que em 1998 bateu de frente com Angelo Sodano, por este não querer investigar o cardeal emérito de Viena, Hans Hermann Groër, por abuso de menores. Ele defende abertamente o fim da cultura do acobertamento.
.
Qual é o outro grupo?
O outro grupo é formado por quem quer manter o status quo, quem quer imunidade a críticas e represálias aos mais altos funcionários da igreja. O candidato que eles menos querem como papa é Schönborn.
Qual é o papel do Vatileaks na eleição do novo papa? Isso preocupa os cardeais?
Claro que sim. Eles temem que as revelações (contidas no relatório) os incluam e tudo indica que o vazamento de informações vai continuar. As revelações expuseram a crise no Vaticano e esta crise não é uma invenção da imprensa liberal ou italiana.
Além do conteúdo bombástico do relatório, o que mais divide os cardeais?
Primeiro a falta de transparência nos assuntos do Vaticano e na conduta da Cúria, incluindo as finanças e a gestão do Banco Vaticano. Segundo, a disposição de alguns de remover dos cargos padres pedófilos e até cardeais que os protegeram (os padres). Terceiro, a eleição de um papa africano ou da América Latina. O último continente tem 40% dos católicos e é pouco representado no colégio cardinalício. A maioria dos cardeais, 62, são europeus. Por fim, o tema do celibato, o papel da mulher na igreja e o uso de anticoncepcionais também são temas de divisão.
Alguma aposta sobre quem será o novo papa?
Angelo Scola, de Milão, seria o favorito de Bento 16 e de muitos. Schönborn parece ser o papa de que a igreja precisa urgentemente. Mas Odilo Scherer, de São Paulo, pode ser a surpresa do conclave. Sua ascendência alemã o conecta à Europa. Marc Oullet, do Canadá, também não pode ser ignorado. Ele fala espanhol, viveu muitos anos na Colômbia e isso o ajudaria. Tem laços europeus, latino-americanos e norte-americanos.
O cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, pode ser a surpresa do conclave que, nos próximos dias, começa a escolher no Vaticano o futuro papa. Essa é a opinião do especialista em religião Daniel Alvarez, da Universidade Internacional da Flórida. Segundo Alvarez, a ascendência alemã de Scherer “o conecta à Europa”, o que fortaleceria sua posição para ser escolhido para assumir o pontificado.
O especialista acredita que um embate entre os que querem reformar a administração da Igreja Católica e os que querem manter o status quo estaria pautando a eleição.
Um exemplo do embate identificado pelo analista se deu na quinta-feira, quando o jornal italiano “La Repubblica” publicou uma entrevista com um dos “corvos”, uma gíria para delator em italiano e uma alcunha para os que participavam do grupo que vazou informações do Vaticano, no caso conhecido como Vatileaks.
Um relatório da situação, que mostraria escândalos financeiros e sexuais, teria motivado a renúncia de Bento 16 e estaria pautando as discussões sobre o novo papa.
Outro suposto exemplo da tensão na Igreja foi percebido um dia antes, quando jornalistas aguardavam ansiosos declarações dos cardeais americanos, que vinham concedendo uma série de entrevistas coletivas diárias sobre o processo de escolha do próximo papa, mas a coletiva acabou sendo cancelada de última hora.
O Vaticano vetou as entrevistas dos cardeais. Pouco depois, os religiosos americanos emitiram uma nota de duas frases que se limitava a dizer que tinham um “compromisso com a transparência”.
BBC Brasil - Os cardeais vão unidos para a Capela Sistina ou há divisões internas?
Daniel Alvarez - Creio que há conflitos internos. Há um grupo que quer a suspensão de altos funcionários e até de cardeais que por décadas operaram sob uma cultura de corrupção, cumplicidade de silêncio e encobertamento de sacerdotes pedófilos. Cito por exemplo Rioger Mahoney, Bernard Law (ambos dos Estados Unidos), Sean O’Brady (Escócia), Castrillón Hoyos (Colômbia), Angelo Sodano e até Tarcisio Bertone (ambos italianos). Também querem que o relatório submetido a Bento 16 se torne público. Destaca-se o cardeal Cristoph Schönborn, de Viena, que em 1998 bateu de frente com Angelo Sodano, por este não querer investigar o cardeal emérito de Viena, Hans Hermann Groër, por abuso de menores. Ele defende abertamente o fim da cultura do acobertamento.
+ informações
Qual é o outro grupo?
O outro grupo é formado por quem quer manter o status quo, quem quer imunidade a críticas e represálias aos mais altos funcionários da igreja. O candidato que eles menos querem como papa é Schönborn.
Qual é o papel do Vatileaks na eleição do novo papa? Isso preocupa os cardeais?
Claro que sim. Eles temem que as revelações (contidas no relatório) os incluam e tudo indica que o vazamento de informações vai continuar. As revelações expuseram a crise no Vaticano e esta crise não é uma invenção da imprensa liberal ou italiana.
Além do conteúdo bombástico do relatório, o que mais divide os cardeais?
Primeiro a falta de transparência nos assuntos do Vaticano e na conduta da Cúria, incluindo as finanças e a gestão do Banco Vaticano. Segundo, a disposição de alguns de remover dos cargos padres pedófilos e até cardeais que os protegeram (os padres). Terceiro, a eleição de um papa africano ou da América Latina. O último continente tem 40% dos católicos e é pouco representado no colégio cardinalício. A maioria dos cardeais, 62, são europeus. Por fim, o tema do celibato, o papel da mulher na igreja e o uso de anticoncepcionais também são temas de divisão.
Alguma aposta sobre quem será o novo papa?
Angelo Scola, de Milão, seria o favorito de Bento 16 e de muitos. Schönborn parece ser o papa de que a igreja precisa urgentemente. Mas Odilo Scherer, de São Paulo, pode ser a surpresa do conclave. Sua ascendência alemã o conecta à Europa. Marc Oullet, do Canadá, também não pode ser ignorado. Ele fala espanhol, viveu muitos anos na Colômbia e isso o ajudaria. Tem laços europeus, latino-americanos e norte-americanos.
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