terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Metade das casas noturnas em Marília não possui alvará de funcionamento

Multa no caso de descumprimento da lei é de R$ 433, além da interdição e lacração. Das nove boates da cidade, apenas cinco estão com projeto de incêndio em dia

DISTÂNCIA - Pais de Lucas Zófoli souberam por telefone que o filho sobreviveu da tragédia em Santa Maria/RS


Praticamente metade das casas noturnas de Marília está sem o auto de vistoria do Corpo de Bombeiros, o que invalida o alvará de funcionamento dos estabelecimentos. Segundo o capitão Renato Carbonari, das nove boates da cidade, apenas cinco estão com projeto de incêndio em dia e operam dentro da lei. Multa no caso de descumprimento da lei é de R$ 433, além da interdição e lacração.
Carbonari diz que as fiscalizações dos estabelecimentos são de responsabilidade do setor de fiscalização de postura da prefeitura. O fiscal de postura Gilson de Souza explica que quando o alvará é expedido automaticamente o proprietário da casa noturna precisa estar em dia com toda a documentação, entre elas o AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros). Caso a vistoria esteja irregular, o alvará também estará.
“Mas apesar disso, nós não temos uma legislação que obrigue que a pessoa esteja comprovando anualmente que o auto de vistoria está em dia, mesmo com data de vencimento, o que faz com que a vistoria dependa do Corpo de Bombeiros por pedido judicial ou outro meio”, diz Souza.
Gilson relata que o que acontece todos os anos é um pedido de fiscalização através da promotoria de defesa do consumidor, que garante que os locais estejam devidamente preparados para acolher clientes. De acordo com Carbonari, para que o projeto de incêndio seja aprovado, o proprietário deve apresentar a aprovação de um engenheiro de que o local é resistente ao fogo, um compartimento horizontal, que impede que o fogo se alastre para o andar debaixo - em caso de sobrados - o controle de materiais de acabamento, evitando assim que tetos peguem fogo, além das saídas de emergência com barras anti-pânico e as distâncias devidas entre o ambiente de uso e saída de emergência, tal como as larguras dos corredores.
Além disso, casa também deve contratar seguranças com formação em curso de 16 horas de primeiros socorros e lidar com equipamentos de prevenção. A iluminação de emergência também é exigida para orientar os clientes à saída, tanto quanto o alarme e detector de incêndio e hidrante.



Família de sobrevivente em Marília acompanha tragédia por telefone


O estudante Lucas Zófoli, 21, é um dos sobreviventes da tragédia de Santa Maria (RS). A família dele, que mora em Marília, acompanhou todo o drama pelo telefone. Lucas nasceu em Porto Alegre e viveu seis anos em Marília. Há dois está em Santa Maria estudando na universidade federal da cidade.
Segundo conta o pai do sobrevivente, o engenheiro das indústrias Jacto, de Pompéia, Robson Zófoli, 48, seu telefone tocou durante a madrugada, por volta das 4h, com o filho relatando a tragédia e dizendo que apesar do tumulto estava bem.
“Ele ligou para nos deixar tranquilos, porque lá é um lugar que os universitários geralmente frequentam e que ele já foi várias vezes”, fala. Lucas estava no meio da casa noturna quando percebeu que as chamas haviam atingido o material acústico do teto. Ao perceber o incêndio, puxou um amigo pelo braço e foi até a saída. Ele relatou ao pai que demorou cerca de 12 minutos para conseguir chegar ao lado de fora. Robson diz que seu filho foi corajoso e solidário.
“Infelizmente ao chegar lá fora, ele percebeu que outro amigo ainda não tinha saído e ainda voltou para socorrê-lo, mas ao entrar novamente na boate, a fumaça já tinha intoxicado o amigo que não resistiu e faleceu”, relata.
Lucas ainda ajudou mais dez pessoas a saírem do local. Ele não precisou ser internado, mas passou por exames para saber se a fumaça provocou danos em suas vias respiratórias.
“Ele está muito abalado na casa de familiares lá em Santa Maria mesmo. Estamos todos ainda chocados com o acontecido, pois realmente a situação foi muito grave. Agradecemos imensamente a Deus pela proteção divina do nosso filho, pois o ocorrido é uma tragédia imensurável”, completa Robson. Com a experiência, ele afirma que a preocupação tanto do pai como a do filho será dez vezes maior com as normas de segurança dos locais com grande aglomeração de pessoas.



Vinícius solicita fiscalização imediata em locais de aglomeração


O prefeito Vinícius Camarinha solicitou ontem (28) às equipes de fiscalização de posturas vistoria imediata em todos os estabelecimentos de aglomeração popular, como auditórios, bares, boates, igrejas e teatros. O objetivo do trabalho emergencial é avaliar as condições de segurança para a população.

 

 

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“Ficamos consternados com a tragédia de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que causou a morte de 231 jovens e que deixou uma centena de feridos, por uma série de erros, como a falta de uma saída apropriada e devidamente sinalizada. É de competência do poder público tal fiscalização, garantir todas as condições de segurança aos frequentadores desses lugares”, disse o prefeito Vinícius Camarinha.
O chefe do Executivo que está em Brasília para participar até a próxima quarta-feira (4) do 2º Encontro Nacional com Novos Prefeitos e Prefeitas - Municípios Fortes, com a presidenta Dilma Rousseff.
A Prefeitura de Marília conta com dezenas de fiscais de posturas, além de profissionais que prestam serviço junto à Secretaria Municipal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e à Secretaria do Meio Ambiente. Desenvolvem o trabalho de fiscalização do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros, durante o dia e com plantões noturnos e nos fins de semana.
Quando um empresário ou responsável por um evento popular entra com o pedido de licença na prefeitura, mediante a apresentação dos laudos elétrico e civil, o Corpo de Bombeiros é notificado e uma visita é realizada no local para garantir saída e sinalizações adequadas, além de equipamentos de combate a incêndio, como extintores.
A multa para estabelecimento que estejam em desacordo com as normas de segurança é de R$ 433.
“Vamos realizar uma ampla fiscalização no município para conhecer a realidade dos itens de segurança, como validade e quantidade dos extintores e mangueiras, tudo para garantir a segurança da população. Assim que estiver em Marília, uma reunião será agendada com os fiscais de posturas e representantes do Corpo de Bombeiros para iniciarmos essa mobilização”, concluiu o prefeito.



Donos da Kiss tentaram obstruir provas


As prisões temporárias de dois sócios da boate Kiss e de dois músicos da banda Gurizada Fandangueira ontem (28), em Santa Maria (301 km de Porto Alegre), foram motivadas por indícios de que eles estariam prejudicando as investigações com o desaparecimento ou com a manipulação de provas. Um incêndio no interior do estabelecimento, na madrugada desse domingo (27), deixou 231 mortos e mais de cem feridos.
A informação é da promotora criminal Waleska Flores Agostini, representante do Ministério Público na investigação do caso. Em entrevista ao site UOL, ela disse que o aparente sumiço de imagens do circuito interno de câmeras da boate caracterizaria obstrução por parte dos empresários Mauro Hoffmann e Elissandro Callegaro Spohr. Eles foram presos ontem, respectivamente, nas cidades de Santa Maria e Cruz Alta.
Já as prisões dos dois músicos, de acordo com a promotora, foram subsidiadas pela não localização de equipamentos de pirotecnia semelhantes aos usados no show pela banda, antes do incêndio, durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão em suas residências.
De acordo com a promotora, os pedidos de prisão formulados à Justiça foram apresentados pela Polícia Civil, com manifestação favorável à medida por parte do MP. Para a promotora, antes de 30 dias “dificilmente” as autoridades terão uma resposta final sobre as investigações, uma vez que esse é o prazo inicial, sem dilatação, para que a Polícia Científica apresente o relatório da perícia iniciada hoje no prédio da boate. Esse também é o tempo para a Polícia Civil concluir o inquérito, caso não peça prorrogação de prazo, para só então os autos serem remessados ao MP para oferta ou não de denúncia.
Sobre o fato de a boate Kiss funcionar pelo menos desde agosto sem alvará - concedido e fiscalizado, em tese, pelas prefeituras -, a promotora criminal adiantou que o MP deverá pedir responsabilização cível de agentes públicos.
“Existe uma responsabilização na área cível, mas também não se descarta essa responsabilização na área criminal - cada vez isso fica mais evidente”, resumiu.




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